quinta-feira, fevereiro 07, 2008

A Colaboração Caórdica


Há cerca de cinco mil anos o homem inventou a escrita e deu um tremendo salto na história da humanidade. Passou a guardar o conhecimento e incrementá-lo a cada novo nascimento em vez de ter que recriá-lo de geração em geração. Com a Internet, o homem está prestes a dar mais um desses saltos, passando a não só guardar o conhecimento, mas recriar sobre a criação do outro, somando seu conhecimento ao de seus pares em uma colaboração global e sem limites.

A partir do momento em que as pessoas passam a colaborar umas com as outras na criação e recriação da informação, a produtividade aumenta em níveis nunca observados. A colaboração suscita uma escala muito maior de inovações em todas as áreas, desde a área médica até automobilística. Se duas cabeças pensam melhor do que uma, imagine algumas centenas de milhões de cabeças pensando juntas.

De acordo com o escritor Dom Tapscott, no livro “Wikinomics”, é justamente a colaboração em massa que está fazendo com que empresas de todo mundo aproveitem o potencial da web para gerar inovações continuamente e, assim, tornarem-se cada vez mais competitivas. Nada disso seria possível sem a Internet.

Essa colaboração em massa também é citada no livro “O Mundo É Plano”, de Thomas Friedman, como uma das 10 forças que achataram o mundo.

A colaboração é a base de todo o sistema econômico que conhecemos e é parte intrínseca do próprio ser humano, afinal, como dizia Aristóteles, o homem é um animal social e político.

As empresas, porém, ainda têm um certo temor daquilo que não podem controlar – e, definitivamente, a colaboração é algo que ganha vida própria bem cedo, pois é orgânica e incontrolável. Tal receio vem do fato de não entenderem que a colaboração é uma ação “caórdica” e descentralizada, e por isso mesmo, genial e inovadora.

É o que acontece em uma roda de capoeira, em uma “jam session” de jazz ou em um “brainstorm” em que não há hierarquias, mas sim, um sistema auto-organizado. Algo como relembrarmos do princípio neoliberal de que o mercado se auto-regula – é o que acontece com a Internet e é exatamente por isso que ela reflete com tanta exatidão a própria sociedade em que vivemos. É o que Dee Hock chamou de caórdico no livro “O Nascimento da Era Caórdica”.

O memorável cantor e compositor Chico Science alertava “Que eu me organizando posso desorganizar. Que eu desorganizando posso me organizar” e estava certo. Na “caordem”, a organização nasce da desorganização e vice-versa.

Erige-se um universo em que pessoas, até então comuns, tornam-se os protagonistas de uma nova era digital-renascentista, em que a criatividade, até então suprimida por se tratar de um fenômeno entrópico e irrefreável, é cada vez mais valorizada e vista como pilar fundamental da competitividade. A colaboração, assim como a criatividade, nasce do caos da mente humana.

Assim como o caos que é a própria Internet, a mente humana cria a ordem a partir dele, assim como a Internet também o faz. Para muitos, pensar em meio ao caos pode parecer impossível para as atuais convenções ainda soberanas.

Não poderia ser diferente. O sistema descentralizado da Internet (criado para ser isso mesmo) se assemelha à mente humana, ao passo que neurônios e sites conversam entre si, criam a ordem a partir do caos e mostra-se muito mais complexo do que conseguimos compreender em uma primeira observação.

A era “caórdica” mostra a colaboração como um caminho natural para o qual as empresas devem seguir e não lutar contra. O desejo da massa não pode ser contido, e a massa quer participar, colaborar e alterar conforme suas necessidades específicas.

A colaboração “caórdica” pode ser a chave para que entremos em uma nova era e para que possamos completar esse salto na história da humanidade que, por enquanto, como um gato que fita o muro ao qual está prestes a pular, estamos apenas ensaiando.

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